sábado, 3 de setembro de 2011

Pelo fim da escravidão


No último fim de semana, estive no "Nossa Música Brasileira", evento que reúne diversos cantores e compositores da "MPB Cristã" (leia o post "As quatro cenas musicais"), que acontece no acampamento dos Jovens da Verdade (Araujá, São Paulo).

Durante a apresentação do Gladir Cabral, que gravou o DVD "Casa Grande", ele falou algo que incomodou meu coração: "O número de escravos existentes hoje é maior que o número de escravos que existiam na época da escravidão", e que já existem diversos grupos abolicionistas surgindo ao redor do mundo. Por mais que isso pareça absurdo, basta acompanhar o noticiário para ver essa verdade. Recentemente, a marca de roupa Zara foi acusada de utilizar mão de obra escrava dentro da cidade de São Paulo (leia no blog Coletivo Verde).

O mais triste é que normalmente as pessoas cativas na escravidão são mulheres e crianças, seja para o trabalho, seja para a exploração sexual.

Mas o fato é que existe um tipo de escravidão que está muito mais perto do que imaginamos, inclusive dentro das igrejas: a escravidão de idéias. Os pensamentos, gostos e até atitudes das pessoas tem sido moldados e manipulados por aqueles que detêm o poder, e não aceitam serem questionados ou desafiados. E quantos pastores e líderes religiosos não tem agido dessa forma? Impondo sua vontade a força, agredindo (verbalmente ou moralmente) qualquer um que questione suas práticas, mantendo as pessoas alienadas e sem pensar, continuando assim a se manter no poder.

Como artistas cristãos, sejam músicos, poetas, compositores, pintores, ou qualquer forma de expressão artística, é nossa obrigação denunciar as injustiças desse mundo, e trazer à luz a verdade do evangelho, que é libertação! Não podemos, de forma nenhuma, achar que nossa expressão de adoração à Deus acontece apenas de maneira vertical, entre nós e Deus, transcendendo a realidade a nossa volta. Adorar a Deus é, antes de tudo, amar e cuidar do próximo... principalmente os mais necessitados. Que nossas vozes e nossa arte se una as mensagens das músicas abaixo, para expor as injustiças desse mundo, e fazer com que as pessoas que estão de "olhos fechados" dentro de nossas igrejas acordem para anunciar e proclamar a libertação que há em Cristo Jesus.

Convite à Liberdade

"Oh vinde vós os povos de todas as nações, erguei-vos e cantai com alegria
Fazei no ar soar a vossa melodia que Jesus Cristo traz libertação.
É tempo de esquecer a vil escravidão que em vós exercem homens ou ideias
É tempo de dizer que só Deus pode ser: O único Senhor da humanidade.


    A Verdade vos libertará sereis em Cristo verdadeiramente livres
    Vinde todos sim oh vinde já E celebrai com alegria s vossa libertação


E vós os oprimidos, e vós os explorados e vós os que viveis em agonia
E vós os cegos, coxos, vós cativos sós sabei que em breve vem um novo dia
Um dia de justiça, um dia de verdade, um dia em que haverá na terra paz
Em que será vencida a morte pela vida e a escravidão emfim acabará."





Em Nome da Justiça (João Alexandre)


"
Enquanto a violência acabar com o povão da baixada
E quem sabe tudo disser que não sabe de nada
Enquanto os salários morrerem de velho nas filas
E os homens banirem as leis ao invés de cumpri-las
Enquanto a doença tomar o lugar da saúde
E quem prometeu ser do povo mudar de atitude
Enquanto os bilhetes correrem debaixo da mesa
E a honra dos nobres ceder seu lugar à esperteza.


    Não tem jeito não.


Só com muito amor a gente muda esse país
Só o amor de Deus pra nossa gente ser feliz
Nós os filhos Seus temos que unir as nossas mãos
Em nome da justiça, por obras de justiça
Quem conhece a Deus não pode ouvir e se calar
Tem que ser profeta e sua bandeira levantar
Transformar o mundo é uma questão de compromisso
É muito mais e tudo isso.


Enquanto o domingo ainda for nosso dia sagrado
E em Nome de Deus se deixar os feridos de lado
Enquanto o pecado ainda for tão somente um pecado
Vivido, sentido, embutido, espremido e pensado
Enquanto se canta e se dança de olhos fechados
Tem gente morrendo de fome por todos os lados
O Deus que se canta nem sempre é o Deus que se vive,
não
Pois Deus se revela, se envolve, resolve e revive
Não tem jeito não, não tem jeito não. ( Bis )"





Casa Grande (Gladir Cabral)

"A casa grande é branca e branda como a seda, 
Acolchoada, fina e nobre como a renda, 
Mas aqui fora reina a lei da reprimenda, 
Da palmatória, nossa paga, nossa prenda. 


Doutores, caros, fortes, ricos e senhores 
Que suspirais pelas janelas dos amores, 
Olhai por nós marcados por terríveis dores, 
De vós vêm nossas esperanças e temores. 


    Os nossos corpos sendo mortos pouco a pouco, 
    Os nossos sonhos já desfeitos, todos loucos. 
    Na casa grande há uma cruz numa parede. 


No coração de um negro há uma casa nova 
Sem palmatória, sem corrente obrigatória, 
Sem mais senhores, todos são de todo amigos 
E nas paredes não há cristos esquecidos. 


Nessa fazenda Deus é gente aproximada, 
É tempo inteiro, tarde, noite e madrugada, 
Motiva encontro, comunhão e caminhada, 
Faz liberdade ser bem mais que uma palavra. 


    Os nossos corpos redimidos num momento 
    Bem mais veloz que a luz de todo o pensamento, 
    A nossa casa é muito mais que uma fazenda (1ª) 
    A nossa vida é bem mais que uma fazenda (2ª) "





No amor do mestre,

Renan Alencar de Carvalho

3 comentários:

  1. Uma dica do Gladir para se engajar nessa luta:

    International Justice Mission
    http://www.ijm.org/

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  2. Que interessante este assunto abordado por vocês artistas.
    Escravidão é mais que triste é horrível. Manter as pessoas escravas seja por que motivos for é abominável, somos livres nossa alma é livre ninguém pode nos aprisionar, as pessoas precisam de esclarecimento de cultura para entender isso.

    Vou compartilhar no face.

    Abraços,

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  3. Obrigado pelo comentário Bella.

    Realmente é um absurdo, mas uma realidade... e enquanto isso vivemos uma fé egoísta em só pedir para nós mesmos, e vivemos um total desinteresse pelas outras pessoas... Uma fé que não manifesta seu amor aos próximos, que não treme de indignação quando uma injustiça é cometida com os necessitados, que não se levanta para se opor aos maus, não é uma fé verdadeiramente cristã!

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