Retirado de blog Cante as Escrituras.
Quando se trata dos cânticos de Domingo, as igrejas têm mais opções do que jamais tiveram. Do hinário, passando pela Hillsong, até as composições locais, pastores e líderes de louvor têm milhares de músicas para escolher. Um bom problema para se ter.
Mas ainda é um problema. Nenhum líder de música pode evitar. Nenhuma igreja pode cantar todos os ótimos hinos e todas as mais novas e melhores canções das rádios. Nenhum músico consegue ser excelente em todos os estilos musicais que existem. Nenhum líder pode agradar todas as pessoas o tempo todo.
A proliferação de opções com freqüência leva a um conflito. Devemos cantar hinos (Wesley, Watts or Fanny Crosby?) ou contemporâneos (música popular dos anos 70, música evangelical contemporânea ou punk rock?). Nossa música deve ter um pouco do ritmo latino ouç do sentimento Afro americano? Devemos usar cânticos, música de coral, salmos, jazz, country ou bluegrass?
Há outras questões também. Que tipo de instrumentos devemos usar? Quanto do contexto cultural deve ser levado em conta? Há apenas um tipo certo de música para cantar? Se não, há maneiras erradas?
Eu não posso responder todas essas perguntas. Mas há alguns princípios gerais que podemos usar para tomar decisões sábias sobre a música de nossa igreja. Deixe-me sugerir alguns princípios para a música congregacional.
Há coisas mais importantes que o tipo de música que cantamos. A música não deve ser a cola que nos mantém unidos – a cruz, a glória de Jesus Cristo, a majestade de Deus e o amor é que devem ser. Mas mesmo igrejas centradas no evangelho têm discordâncias sobre música. Então o amor é indispensável quando cantamos e quando tentamos discernir o que é melhor cantar.
João Calvino:
Mas, porque na disciplina exterior e nas cerimônias não quis ele prescrever minuciosamente o que devamos seguir (porque isto previne depender da condição dos tempos, nem julgaria convir a todos os séculos uma forma única), impõe-se aqui acolher as regras gerais que deu de modo que, em conformidade com essas regras, sejam aferidas todas as coisas que, para a ordem e o decoro, a necessidade da Igreja muito requer que sejam preceituadas. Enfim, porque Deus nada ensinou expresso nesta área, porquanto essas coisas não são necessárias à salvação e devem acomodar-se variadamente para a edificação da Igreja, segundo os costumes de cada povo e do tempo, convirá, conforme o proveito da Igreja o requerer, tanto mudar e revogar ordenanças comuns, quanto instituir novas. De fato reconheço que se deve recorrer à inovação não inconsiderada, nem seguidamente, nem por causas triviais. O que, porém, prejudica ou edifica, melhor o julgará a caridade, a qual se permitirmos seja a moderatriz, tudo estará a salvo. (Inst. 4.10.30)
Antes de sermos rápidos em julgar as músicas ruins de que outros Cristãos gostam, lembremos do relato de C.S. Lewis. Preste atenção em um dos mais famosos convertidos aos Cristianismo do século falando sobre sua primeira impressão da música da igreja:
Não gostei muito dos hinos deles, que considerei poema de quinta categoria em música de sexta. Mas com o tempo, vi seu grande mérito. Eu fui confrontado com pessoas de visões e educações diferentes, e gradualmente meu conceito começou a se desfazer. Eu percebi que os hinos (que eram apenas música de sexta categoria) estavam, no entanto, sendo cantados com devoção e benevolência por um santo idoso calçado em botas simples no banco oposto, então você compreende que não é digno de limpar essas botas. Isso faz você se libertar dessa presunção. (God in Dock, 62)
Imagino que o Apóstolo Paulo, se estivesse escrevendo à igreja de hoje, talvez tivesse algo a dizer sobre o estilo de louvor. “Se eu cantar no estilo musical mais da moda, mas não tiver amor, estarei apenas tocando bateria e dedilhando uma guitarra. Se eu tiver o dom de interpretar música e apreciar os mais ricos hinos, mas não tiver amor, nada serei. Se eu tenho perspicácia para excelente música e poesia fina, mas não tiver amor, de nada tenho proveito”. O primeiro princípio para cantar como uma congregação e escolher músicas para a congregação é o amor.
Deus é o único que devemos querer impressionar, o único a quem mais devemos querer honrar. Nosso primeiro objetivo não deve ser conquistar a cultura ou apelar para o não regenerado. Adoração é para o Único Digno.
Seguir rigorosamente essa prioridade é o objetivo da edificação. As músicas cantadas no domingo de manhã devem ser benéfica ao povo de Deus. Essa é uma aplicação fiel das preocupações de Paulo em 1 Coríntios 14. Também faz parte ensinar e admoestar uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais (Col. 3:16). Nunca devemos colocar a música apenas como uma divertida introdução ao sermão. Antes de aplicar música secular como música de fundo no prelúdio, reflita se uma canção vagamente espiritual do U2 realmente edificará o corpo de Cristo.
Cânticos congregacionais fazem parte do ensino ministerial da igreja. Músicos e pastores de igreja devem perguntar a si mesmos: se nosso povo aprendeu teologia por meio de nossas músicas, o que vão saber daqui a 20 anos sobre Deus, a cruz, a ressurreição, os obras de Cristo, o Espírito Santo, a Trindade, criação, justificação, eleição, regeneração, a igreja, os sacramentos e todas as outras doutrinas fundamentais da fé?
É uma ordem? Uma ordem que não cumprimos ainda? Há ainda novas músicas a serem cantadas a Deus. E se a Igreja tivesse parado de cantar cânticos novos no século XV? Não teríamos “Castelo Forte”. E se os cristãos tivessem parado no século XVI? Sem Charles Wesley. Nem Isaac Watts. E se a Igreja tivesse parado uma geração atrás? Ninguém cantaria “In Christ Alone” no domingo. Uma pena.
A metáfora é proposital. Devemos nadar no grande oceano da música de igreja, um oceano que está continuamente recebendo novos fluxos. Eu não estou defendendo uma porcentagem definida de velho Vs. novo – toda igreja parecerá um pouco diferente, mas sugiro que devemos entender a nós mesmo como parte desse oceano profundo da música cristã.
Para mim, é chocante que uma igreja conscientemente (ou inconscientemente, se for o caso) fuja completamente do oceano dos hinos históricos e entre em na piscina rasa de música exclusivamente contemporânea. Não estou dizendo que músicas mais novas são inferiores às mais velhas (veja o ponto anterior). O que estou dizendo é que é uma expressão de extrema arrogância e insensatez pensar que não temos nada a ganhar das velhas canções e nada a perder quando desprezamos músicas cristãs que foram cantadas por milhares de anos.
Pense que no que você ganha com um hinário (seja um hinário de fato ou o conteúdo do hinário na projeção):
Uma ligação com a história. Nosso povo, sem mencionar o mundo, precisa saber que o Cristianismo não é uma invenção inédita. Cantamos juntos com dois milênios de crentes.
Diversidade. Garanto que aquelas igrejas que cantam hinos estão sendo expostas a uma variedade mais vasta de músicas cristãs que aquelas que são exclusivamente contemporâneas. O hinário tem 20 séculos de estilos: cânticos, canções populares e étnicas, cantigas, salmos, baladas galesas, melodias britânicas, hinos alemães, música gospel (negra ou branca) e dúzias de outros estilos musicais.
Excelência. Sim, há alguns verdadeiras sucatas na maioria dos hinários. Mas no geral, as músicas ruins foram descartadas. Se estamos ainda cantando uma música 500 anos depois, ela provavelmente tem uma letra forte, boa poesia e uma tonalidade cantável
Todos os conselhos de Deus. Hinos dão a você um amplo leque de temas e categorias bíblicas. A música contemporânea está melhorando esse quesito, mas o hinário é ainda o melhor lugar para encontrar uma música de adoração e exaltação a Cristo ou uma canção de iluminação ou uma lamentação ou um hino de comunhão. Parabéns a Keith e Kristyn Getty e Sovereign Grace por tentar preencher esse tipo de lacuna.
Não estou convencido pelos argumentos em favor da salmodia exclusiva. Mas em 95% das igrejas o problema não é que estamos mantendo distância dos bons “não-Salmos”. É estranho, embora nos seja ordenado que cantemos os Salmos e embora salmos tenham sido o centro dos cânticos nas Igrejas durante séculos, ainda ignoramos um trecho imenso no meio de nossas Bíblias (emprestando uma frase de Terry Johnson). Em uma observação mais alegre, fico feliz por estarmos começando a ver alguns músicos contemporâneos voltando atenção aos salmos.
Não estou, nem de perto, sugerindo elitismo. Uma melodia tem de ser relativamente simples para que centenas ou milhares de pessoas cantem ao mesmo tempo. Mas podemos ainda persistir em não nos distrairmos pela falta de excelência (para usar a frase de John Piper). Queremos que a cruz seja a pedra de tropeço, não nossa musicalidade pobre ou o Power Point cheio de erros.
Enquanto acredito que uma grande variedade de estilos pode ser usada na adoração, não sou um relativista musical. Algumas músicas são melhores que outras. Alguns estilos funcionam melhor que outros. E quando se trata de letra, evitamos deslizes óbvios como usar tu e você na mesma música ou acumular clichês banais. Ouvi uma canção no rádio há algumas semanas cujo refrão tinha algo sobre uma rosa perfumada no início da primavera e uma águia voando alto a estender suas asas. Se sua igreja canta isso no domingo, ame seu líder de louvor do mesmo jeito. Mas se você é o líder de louvor escolhendo essa música, tente algo com um pouco mais de arte, algo que não soe como vindo de uma página aleatória do seu calendário inspirativo de bolso.
Algumas músicas são simplesmente profundas e algumas são profundamente simples, mas há uma forma de fazer ambos bem. Com tantas músicas a escolher, não há razão para as igrejas não fazerem um esforço para cantar músicas com algum senso de poesia e integridade musical. O refrão de Aleluia é repetitivo, mas é musicalmente interessante. A maioria das canções, refrões e versos não são suficientes para serem repetidos por tanto tempo.
Todos são responsáveis por cantar. A jovem com suas mãos erguidas e o idoso cantando o baixo. O que as pessoas querem ver na sua adoração é aquilo que você quer dizer. E não importa quão relaxada ou reverente sua adoração é, se ninguém está cantando, é ruim.
É cantável? Preste atenção na extensão (muito alta ou muito baixa) e esteja ciente da síncope e das irregularidades na métrica e no ritmo. Certifique-se que a melodia é intuitiva, principalmente se você não tem a partitura para olhar ou se as pessoas não sabem lê-la. Quando seu violão dedilha entre sol, dó e ré, há muitas notas a serem escolhidas nesses tons.
O instrumental está ajudando ou inibindo a congregação de cantar? Isso significa checar o volume. A música está muito suave para sustentar as vozes? Está tão alto que as abafa? Um erro das equipes de música é pensar que todos os instrumentos devem ser usados em todas as músicas. Algumas músicas devem ter um instrumental completo, mas só porque você tem bateria, piano, guitarra, baixo, lira, cítara, flauta, chocalho, banjo, violoncelo e atabaque, não quer dizer que você tem que usar todos eles o tempo todo.
É uma canção familiar? As pessoas têm dificuldade com uma música nova toda semana, quanto mais duas ou três. Mantenha seu som e suas canções básicas e parta daí. De vez em quando, você pode ter que admitir “Essa é uma ótima música, mas não acho que podemos tocá-la bem”.
Toda igreja terá um núcleo musical. Você não deve reinventá-lo toda semana. Mas você também não deve ser escravo disso. Precisamos ser forçados de vez em quando, não apenas com uma música nova, mas com um novo tipo de música – algo da igreja afro-americana ou algo da África ou América Latina. É bom ser lembrado que pertencemos a uma igreja antiga e global.
A música deve sustentar o tema da canção. Letras diferentes têm climas diferentes. A letra de “Castelo Forte” não funcionariam bem na melodia de “Children of the Heavenly Father”. A alegre canção “Do Lord” não consegue capturar o sentimento das palavras finais do ladrão à beira da morte. Por outro lado, é difícil não amar a música de Keith e Kristyn Getty “See What a Morning”, em que a música triunfante e de celebração combina perfeitamente com a letra sobre a ressurreição.
O estilo musical não é neutro, mas é flexível. A música transmite algo. Algumas melodias são doces demais ou demasiado estridentes ou muito românticas. Sempre achei que “Este é meu respirar” soava sensual demais. E também não estou muito certo sobre o que essa música quer dizer. Mas estilos não são categorias rígidas. Não há uma linha definida entre contemporâneo e tradicional, clássico e popular ou alta e baixa culturas. Não temos que fazer regras absolutas sobre estilo musical, mas precisamos ser inteligentes.
Deixe-me dar uma palavra sobre órgãos. Nenhuma igreja deve lutar por eles até a morte. Mas se a sua igreja já tem um órgão, meu conselho é que continue usando. Órgãos eram originalmente associados ao paganismo. Então não há nada inerentemente espiritual nele. Quando foram introduzidos na igreja, os cristãos sabiam tanto sobre órgãos quanto os adolescente de hoje sabem. Eles foram introduzidos na adoração por causa da capacidade desse instrumento. Como Harold Best argumenta no seu fantástico livro Unceasing Worship (Louvor incessante), não há no Ocidente instrumento mais adequado para sustentar o canto congregacional (p.73). O órgão preenche os vazios, proporciona um som grave e encoraja a igreja a cantar mais alto e mais livre. Se você não tem um órgão, pode ser caro adquirir um. Não vamos estabelecer uma regra. Mas se o órgão é uma opção pra você, não a descarte.
Devemos começar perguntando sobre todas as nossas músicas: isso é verdadeiro? Não apenas verdadeiro, mas em conformidade com o texto bíblico. Por exemplo, eu gosto da música “Consuming Fire” do Third Day, mas a letra, embora verdadeira, faz mal uso do texto bíblico. De acordo com a música, Deus é o fogo que consume porque ele entra e derrete os nossos frios corações de pedra. Isso é verdade, mas o texto de Hebreus é sobre Deus, nosso juiz.
Semelhantemente, nossas músicas devem ser explicitamente verdadeiras. Isso é, não devemos ter que forçar uma interpretação para a letra ficar ok. Não queremos cantar músicas que nos levem a pensar “o que isso quer dizer exatamente?”
Por outro lado, não seja muito duro com canções do tipo “eu”. Cerca de 100 dos 150 salmos têm a palavra “eu”. “Eu” não é o problema. O problema é com as músicas que são coloquiais demais ou usam o “eu” impensadamente (“eu só quero te louvar” – bem, então louve), ou nunca passam de como estou me sentindo em relação a Deus para quem Deus é e o que Ele fez para que eu me sinta desta forma.
Em todas as nossas músicas queremos ensinar as pessoas sobre Deus. Se não estamos aprendendo boa teologia e verdade bíblica com nossas músicas, então não temos cuidado com nossas músicas ou não ligamos muito para as verdades bíblicas, ou ambos.