sábado, 30 de julho de 2011

Carta do Som do Céu - Manifesto de artistas cristãos

Eu sei que já fazem mais de 2 anos, mas o conteúdo dessa carta é algo que será "contemporâneo" por muito tempo. Que seja um guia para a sua igreja ou comunidade local no que se refere à música e à arte.

fonte: Cristianismo Criativo

"Introdução

Nós, músicos, artistas e líderes eclesiásticos, cristãos, vindos das variadas regiões brasileiras, estivemos reunidos entre os dias 6 a 12 de abril de 2009, no Acampamento da Mocidade Para Cristo do Brasil, dias de comemoração dos 25 anos do Som do Céu, para discutir dois temas principais: “A música e os músicos na igreja” e “A igreja como promotora de cultura”.

Agradecemos a Deus pelos dias de comunhão fraterna entre nós e pelo privilégio de ouvi-lo entre as vozes pastorais e proféticas que ecoaram em nosso meio. Reconhecemos que a música cristã tem ocupado um espaço significativo em nossos dias, tanto na igreja como na sociedade em geral. No entanto, observamos que nem sempre essa participação tem sido consistente e coerente com a Palavra de Deus – nosso referencial maior – nem rendido glórias ao Senhor da Igreja. Desejamos, portanto, apresentar à Igreja brasileira a “Carta do Som do Céu”, sintetizada em 25 pontos, que resume nossas inquietações e propõe ações práticas à Igreja de Cristo Jesus, nesse princípio de século XXI:

1. O artista cristão deve desenvolver o seu dom criativo e submetê-lo exclusivamente aos valores da Palavra de Deus;

2. Cremos que a arte, na perspectiva da graça comum, é um presente dos céus a toda humanidade e não está restrita aos cristãos;

3. Desejamos que haja coerência entre a vida, o ministério e a profissão do artista cristão, cujo discurso deve estar aliado à sua prática;

4. Esperamos que o artista cristão busque servir a Deus e à sociedade com excelência e integridade, dedicando-se ao desenvolvimento dos talentos e dos dons recebidos do alto;

5. A igreja precisa estar atenta ao artista cristão como parte do rebanho de Deus e dar a ele a atenção devida, despida de preconceitos, e oferecer-lhe pastoreio e discipulado, objetivando a sua formação espiritual e ética;

6. Esperamos que o artista cristão esteja envolvido em uma igreja local, servindo-a e amando-a como Corpo de Cristo. Deve ser rejeitada toda e qualquer tentativa de desenvolvimento de uma fé individualista e distante da comunidade;

7. Reafirmamos que a elaboração de textos e letras deve ter embasamento nos valores da Palavra de Deus;

8. Comprometemo-nos a dedicar atenção e reflexão às canções que são introduzidas no culto de adoração e nas demais atividades da igreja, buscando um repertório equilibrado e consciente e evitando, de todas as formas, que heresias e desvios teológicos adentrem sutilmente em nossas comunidades;

9. As igrejas, as instituições de ensino teológico e os artistas cristãos devem combater o ensinamento equivocado e amplamente difundido de que louvor e adoração restringem-se à musica, ensinando, por demonstração e exemplo, que se trata de um estilo de vida que envolve todas as áreas da nossa existência e que a música, assim como outras formas de arte, é expressão legítima de louvor e adoração;

10. A igreja deve agir como facilitadora na adoração e abrir espaço para que todos expressem seu louvor a Deus;

11. Esperamos que o músico cristão busque e desenvolva a santidade, vivendo uma vida piedosa, tanto no serviço prestado a Deus na igreja, quanto fora dela, em sua atividade profissional;

12. Rejeitamos a dicotomia que faz separação entre o sagrado e o secular e cria espaços estanques na vida do cristão. O Senhor Jesus é soberano e governa todas as instâncias da vida, e, por isso, devemos somente a ele a nossa fidelidade, agradando-o em tudo e rejeitando tão-somente o que ofende a sua glória;

13. A Igreja não se pode esquivar de sua responsabilidade diante da cultura na qual está inserida; deve mentoriar a reflexão e a prática de uma teologia de arte e cultura;

14. Incentivamos as igrejas a abrir suas dependências para a realização de eventos culturais como exposições, mostras, cursos, saraus e outras atividades visando à educação, à divulgação e à aproximação da sociedade;

15. Mesmo entendendo que todo trabalho na igreja é voluntário, podemos honrar com sustento ou remuneração aqueles que se dedicam ao ministério musical, se a comunidade disponibiliza de recursos para tal;

16. Entendemos que nossa arte deve encarnar uma voz profética e manifestar em seu conteúdo os valores do Reino;

17. Recomendamos que as igrejas promovam encontros de reflexão sobre a utilização das artes no Reino de Deus, capacitando os artistas para a realização de seu trabalho;

18. Incentivamos os músicos a expressar em sua arte a beleza de Deus por meio de uma contextualização e diversidade musical;

19. Reconhecemos o caráter essencialmente transformador e questionador da nossa arte e não cremos que ela deva estar a serviço do mercado;

20. Muito embora os artistas cristãos não se devam render aos senhores da mídia, tornando-se reféns desta, podem utilizar de maneira ética os meios de comunicação como canal para a divulgação de sua arte, proclamando, assim, o Reino de Deus;

21. No que se refere ao relacionamento entre os músicos e a liderança eclesiástica, encorajamos o diálogo, o respeito e o reconhecimento mútuo de seus ministérios como algo dado por Deus;

22. Incentivamos que os artistas cristãos busquem perante o Estado e a iniciativa privada recursos para a promoção de sua arte por meio de leis de incentivo à cultura, editais para financiamento de projetos culturais etc.

23. Encorajamos as igrejas a investir na educação e na formação de artistas;

24. Propomos que as igrejas e as instituições de ensino teológico incentivem as diversas manifestações artísticas e não somente a área musical;

25. Compreendemos que o ofício de artista é legítimo como tantos outros, podendo ser exercido pelo artista cristão no mercado de trabalho e devendo ser apoiado e incentivado pelas comunidades cristãs.

São Sebastião das Águas Claras, 9 de abril de 2009."


Assinaram:

Debatedores:

Aristeu de Oliveira Pires Junior – Canela (RS)
Carlinhos Veiga – Brasília (DF)
Denise Bahiense – Rio de Janeiro (RJ)
Erlon de Oliveira – Belo Horizonte (MG)
Gladir Cabral – Florianópolis (SC)
João Alexandre Silveira – Campinas (SP)
Jorge Camargo – São Paulo (SP)
Jorge Redher – São Paulo (SP)
Marcos André Fernandes – Garanhuns (PE)
Marlene F. Vasques – Goiânia (GO)
Nelson Marialva Bomilcar – São Paulo (SP)
Paulo César da Silva – São José dos Campos (SP)
Romero Fonseca – Goiânia (GO)
Rubão Rodrigues Lima – Brasília (DF)
Sérgio Paulo de Andrade Pereira – Ribeirão Preto (SP)
Wesley Vasques – Goiânia (GO)

Demais participantes:

Alfredo de Barros Pereira – Brasília (DF) 
Andréa Laís Barros Santos – Maceió (AL)
Aracy Clarkson Ferreira – Rio de Janeiro (RJ)
Armando de Oliveira – Salvador (BA) 
Bruno Leonardo Alves da Fonsêca – Garanhuns (PE) 
Caio César da Silva Pereira – Brasília (DF) 
Carolina Gama – Campinas (SP)
Carolina Lage Gualberto – Belo Horizonte (MG) 
Cláudia Barbosa de Souza Feitoza – Brasília (DF) 
Danielle Martins Lima – (MG) 
Davi Julião – São Paulo (SP)
Dora Bahiense – Florianópolis (SC) 
Elecy Messias de Oliveira – Goiânia (GO)
Fábio Cândido de Jesus – Anápolis (GO) 
Felipe de Freitas Hermsdorff Vellozo – Niterói (RJ) 
Francely F. Barbosa – Anápolis (GO) 
Glauber Toledo Plaça – São Paulo (SP) 
Gleice de Oliveira Vicente Cantalice – Maceió (AL) 
Guilherme e Alessandra Fontes Vilela Carvalho – Belo Horizonte (MG) 
Guilherme Praxedes – Belo Horizonte (MG) 
Hadassa de Moraes Alves – Viçosa (MG) 
Irineu Santos Junior – Belo Horizonte (MG)
Isabella Sarom Sabino Honorato – Anápolis (GO) 
Ismael S. Rattis – Brasília (DF) 
João Carlos Pereira Junior – Vitória (ES) 
Jocemar “Mazinho” Filho – Recife (PE) 
Jônatas de Souza Reis – Belo Horizonte (MG) 
Karen Bomilcar – São Paulo (SP) 
Leonardo de Azeredo Peclát – Goiânia (GO) 
Leonardo Rodrigues Barbosa – Brasília (DF) 
Lidiane Dutra da Silva – (MA) 
Marcel Martins Serafim – Jacareí (SP)
Marcelo Gualberto da Silva – Belo Horizonte (MG) 
Márcia Pacheco Foizer – Brasília (DF) 
Marilda Redher – São Paulo (SP) 
Marivone Lobo Pereira – Ribeirão Preto (SP) 
Pedro Barbosa de Souza Feitoza – Brasília (DF) 
Rafael Ribeiro Santos – São Paulo (SP) 
Renata Telha Ferreira – Rio de Janeiro (RJ) 
Roberto Cândido de Barros – Curitiba (PR)
Selma de Oliveira Nogueira – São Paulo (SP) 
Silvestre Moysés Loyolla Kuhlmann – São Paulo (SP) 
Stênio Március – São Paulo (SP) 
Talita Estrela R. Martins – Belo Horizonte (MG) 
Vânia Sathler Lage – Belo Horizonte (MG) 
Walma Oliveira – Rio de Janeiro (RJ)

A OMB SERVE PRA QUÊ?


Texto escrito por Felipe Radicetti, compositor e coordenador do GAP, e retirado do G.R.I.T.A
"Eu começaria dizendo ao leitor que em 30 anos de atividades como músico nunca conheci um só músico que gostasse da OMB, ou melhor, que reconhecesse ou que se sentisse representado,  nada! Mas não, eu me enganei, na verdade conheci um sim. Muito estranhíssimo.
Mas a verdade é que a quase totalidade dos músicos do país a rejeita e se revolta ao falar da OMB. Há um inegável e profundo litígio entre a classe musical e a entidade: são cerca de 50.000 inscritos em todo o país, em que pouco mais de 10% destes estão em dia com as anuidades. É a cobrança de anuidades que estabelece o único elo de relação da entidade com os músicos inscritos. Outras ações da entidade são desconhecidas da grande maioria.


 A OMB é uma autarquia pública federal brasileira, criada pela Lei 3.857 de 22 de dezembro de 1960, com o intuito de preservar, fiscalizar e regulamentar a profissão demúsico no Brasil.[1]
 Nesses novos tempos da recente democracia brasileira, em que tantos símbolos da ditadura militar já caíram por terra, a OMB, ainda está aí, desfilando a arrogância bruta que a caracteriza por sobre a maioria daqueles a quem devia representar e proteger.
A OMB, a partir de 64, se confunde bem com o período da ditadura militar no Brasil e hoje, a OMB se confunde, em seu mau papel nesses tempos de democracia. O primeiro presidente da entidade foi o Maestro José Siqueira, que, denunciado como comunista, foi perseguido, preso e  destituído do cargo pela ditadura militar em 1964. O interventor nomeado, o Sr. Wilson Sandoli, assumindo também o Sindicato dos Músicos Profissionais do Estado de São Paulo e o Conselho Regional dos Músicos no Estado de São Paulo, esteve em posição de manipular com facilidade as eleições durante 42 anos, conservando-se nos cargos até os dias atuais, renunciando recentemente apenas à presidência do Conselho Nacional, por determinação da juíza da 12ª Vara Cível Federal de São Paulo, permanecendo, todavia, na presidência da regional[2].
Movimentos organizados de músicos, de todas as partes do país, clamam por mudanças profundas na Ordem. Houve avanços, notadamente em São Paulo: o então Governador do Estado José Serra, promulgou no dia 31 de janeiro de 2007, a Lei 12.547, que dispensa os músicos da apresentação da carteira da OMB, na participação de shows e atividades afins no Estado.[3]
Mas ainda há bom terreno pela frente até superarmos um dos últimos baluartes da ditadura. Essa existência parasitária da OMB encontra-se muito bem ancorada nos próprios artigos da Lei 3.857/1960. Uma blindagem jurídica excepcional que favoreceu as condições para esse estado de coisas. Não será tarefa fácil intervir em sua estrutura.
O cenário atual da política brasileira já não mais permite a sobrevida de uma Ordem fora da ordem democrática. Já é tempo da classe musical e do poder público intervirem definitivamente na  OMB, no sentido de transformá-la em real instrumento da classe, representativo, finalmente legitimado e afinado com as práticas atuais, a democracia brasileira.
Por uma nova Ordem, já!"

[1] Definição do Wikipedia, disponível em : http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_dos_M%C3%BAsicos_do_Brasil
[2] Da matéria on line de Carta Maior:

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O músico cristão pode tocar fora da igreja?

Essa não é uma discussão nova, e respeito a opinião de cada pessoa sobre esse assunto, mas o fato é que diversas pessoas e igrejas "torcem o nariz" quando se fala sobre a possibilidade de um músico cristão "tocar na noite", como se fosse algo incompatível com uma vida de santidade, louvor e adoração a Deus.

Infelizmente, muitas dessas pessoas que condenam o músico que toca profissionalmente fora da igreja não possuem um argumento razoável para justificar esse preconceito. Pensando nisso, gostaria de registrar a minha opinião e argumentos que a sustentam, a fim de rebater esse preconceito.

Qualquer atividade ou profissão que exercemos, pode ser encarada de 4 formas:

1. Como hobbie - nesse caso, você realiza a atividade em questão apenas pelo prazer pessoal que ela lhe proporciona, como uma atividade de lazer e passa-tempo. Cada pessoa possui o seu "passa-tempo", e o que é divertimento para alguns, pode ser um "trabalho" para outras pessoas.

2. Como fonte de sustento - Dentro do nosso contexto sócio-econômico, precisamos trabalhar para gerar recursos para suprirmos as nossas necessidades, como moradia, alimentação, vestuário etc. Nesse caso, quem exerce a atividade não pode abrir mão do pagamento, independentemente de quem esteja contratando o serviço, e essa atividade não necessariamente deve estar relacionada à igreja. Um exemplo bíblico é Paulo, que mesmo sendo ministro do evangelho e chamado para apóstolo, trabalhava construindo tendas para ter recursos para suas necessidades.

3. Como ministério de forma voluntária - Nesse caso, a pessoa doa seu tempo livre para realizar uma atividade em prol do reino de Deus, sem remuneração para isso. Tradicionalmente, a maioria dos serviços "eclesiásticos" funcionam desse modo.

4. Como obreiro - A pessoa doa seu tempo integralmente para realizar a atividade exclusivamente para a igreja e para o reino de Deus. Nesse caso, como a pessoa não obtém sustento do seu trabalho, a igreja deve manter financeiramente essa pessoa. Normalmente entram nesse contexto os pastores e os missionários.

Essas 4 formas se aplicam para qualquer atividade. Um advogado pode advogar como profissão, mas também pode advogar como um ministério prestando, por exemplo, consultoria jurídica para pessoas de baixa renda, e usar esse tempo para testemunhar de Cristo, assim como um marceneiro pode doar parte do seu tempo fazendo manutenções no templo, e servir a igreja desse modo.

A música, como qualquer atividade, pode ser utilizada em qualquer uma das 4 formas. Uma pessoa pode tocar ou cantar na igreja de forma voluntária, mas também tocar ou cantar em bares, de forma remunerada, assim como um médico atende no hospital para ganhar seu sustento, e atende gratuitamente em viagens missionárias. Se uma igreja pedir para um músico escrever uma orquestração, ele pode cobrar por isso, assim como um pedreiro cobra para dar manutenção em um templo, pois gastará tempo e recursos para isso dos quais não pode abrir mão. Caso uma igreja queira que uma pessoa que trabalha como músico atue somente na igreja local, que pague então o seu sustento como obreiro.

Um dos argumentos dados pelas pessoas que são contra um músico tocar "na noite", é o ambiente que, supostamente,  "não condiz" com uma conduta cristã. Esse argumento é um tanto quanto infundado. Basta olharmos para o exemplo de Cristo que veremos que ele esteve, em todo o seu ministério, rodeado de pessoas que não condiziam com o "padrão" de "santidade" (ou religiosidade) imposto pelos religiosos de sua época. É interessante observar que Jesus tem uma das conversas mais profundas sobre adoração com uma "mulher da vida" (Jo 4). Pessoalmente, já tive experiências de conversas extremamente profundas com pessoas não cristãs em lugares não esperados, como numa "mesa de bar".

Vale dizer que as influências negativas e tentadoras acontecem em qualquer ambiente. Na verdade, creio que as tentações que sofrem os cristãos que trabalham nos meios de negócio e de poder público (que são aceitos na igreja) são muito mais perigosas e destrutivas do que as sofridas pelo músico. O que é mais grave eticamente, beber além da conta depois de uma apresentação ou aceitar dinheiro de suborno para fechar negócio com uma determinada empresa?

Outro argumento dado contra os músicos que tocam profissionalmente, que também considero infundado, é em relação à mensagem das músicas tocadas. Primeiramente, existe o bom senso das pessoas. Nenhum profissional precisa aceitar "qualquer trabalho" que lhe é proposto. Em segundo, esse não é um problema exclusivo dos músicos. Um profissional de marketing também não precisa "vender" uma ideia que não concorda? Será que todos os negócios e processos da empresa são éticos? Por fim, esse argumento  se torna mais infundado quando encontramos letras não cristãs muito mais éticas e coerentes (até mesmo teologicamente) do que muitas músicas supostamente cristãs que são cantadas nos cultos de hoje (você pode encontrar um exemplo no meu post "O Vencedor").

Meu último argumento a favor de um músico tocar profissionalmente fora da igreja é que Cristo nos convocou para sermos "sal da terra e luz do mundo". Temos que fazer a diferença e mostrar nosso relacionamento com Cristo Jesus através de nossas atitudes. Provavelmente eu nunca terei uma oportunidade de testemunhar para um grande artista, mas o músico que o acompanha sim. Esse é o verdadeira sentido de santidade, estar com quem precisa ouvir do evangelho, sem se contaminar. Sentar junto dos "pecadores", sem se tornar um, e mostrar que existe uma possibilidade de vida diferente. Não fomos separados para vivermos isolados dentro de uma bolha, mas para fazermos a diferença em meio ao mundo.

No amor do mestre,

Renan Alencar de Carvalho

sábado, 23 de julho de 2011

O Vencedor

Ouvi agora a pouco uma música chamada "Nasci Para Vencer" de um ministério gospel, e resolvi registrar minha breve reflexão que tive enquanto ouvia a música:

No meio de tanto triunfalismo e prosperidade na música "gospel", sempre cantando sobre vitória, prefiro ir na contra-mão, e reconhecer a minha derrota.... derrota em querer ser alguém e vencer por mim mesmo, derrota em querer vencer meu egoísmo e minha vaidade, minha falta de amor, meus erros e pecados e todo o mal  que existe no meu coração.

Mas apesar de tudo isso, Ele me ama, e me ensina como caminhar, trabalha na minha vida e transforma o mal que há em mim de modo que eu possa refletir um pouco de Sua luz.

Ele venceu, não eu. Se existe alguém que "nasceu para vencer", esse alguém morreu a mais de 2000 anos, lá na cruz do calvário, mas ressuscitou vencendo a morte e o pecado, me fazendo livre de minha derrota. Ele sim é "O" vencedor.

Se for cantar sobre o tema de "ser um vencedor", que seja como os Los Hermanos:

"Olha lá, quem vem do lado oposto
Vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são
Escravos sãos e salvos de sofrer

Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar

Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor

Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração

Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?

Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz"



No amor de Cristo,

Renan Alencar

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Cristianismo e a Mídia Secular

O cenário da música "gospel" tem crescido a cada dia, e tem entrado em espaços e programas não cristãos, como o "Domingão do Faustão", entre outros. Apesar dessa exposição de "artistas cristãos" em programas seculares pareça ser "uma benção", na verdade revelam duas tristes realidades:

A primeira realidade é o "mercado" em que a música "cristã" se tornou, e digo no pior sentido. O interesse das gravadoras que estão por trás dos artistas é pura e simplesmente lucrar com todo esse movimento, sendo o meio gospel um dos últimos refúgios de lucro, por ter um índice de pirataria muito baixo, em relação ao meio "secular". Não sejamos ingênuos, as gravadoras não estão interessadas em expandir o Reino de Deus, sua preocupação é atingir as metas de lucro programadas para aquele mês.

A segunda triste realidade é que "O" evangelho (o verdadeiro) não está sendo pregado nem cantado. Não estou sendo pretensioso ou arrogante ao falar isso, mas apenas sendo sincero ao que tenho visto e ouvido. O verdadeiro evangelho É NECESSARIAMENTE confrontador. A mensagem da Cruz não causa conforto, pelo contrário, reconhecer que é um pecador, ter que negar a si mesmo, morrer para as suas vontades, e seguir Cristo até a MORTE não é algo que as pessoas querem ouvir. Se um programa secular, onde pessoas que não entendem a mensagem da cruz estão assistindo, está chamando cantores do "gospel", é porque a mensagem cantada não está sendo confrontadora.

No "Papo & Arte" dessa semana, estava programado para ser discutido sobre o tema "O Cristão e a Mídia",  e por coincidência, no mesmo dia do programa a Globo anunciou o "Troféu Promessas" (http://www.trofeupromessas.com.br/), premiação da Globo para música "gospel". Gostaria de convidá-lo a assistir a gravação e ponderar sobre esse tema, e depois postar sua opinião aqui. Para assistir, entre no site http://www.igrejasp.com.br/, clique no link "Papo & Arte" no menu do lado esquerdo, e procure o vídeo do dia 13 de julho de 2011.

Deus abençoe,

Renan Alencar de Carvalho

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A importância da excelência na música.

Recentemente tive o privilégio de poder ministrar uma aula no curso de extensão em "Louvor e Adoração" do Seminário Teológico Batista do Litoral, e gostaria de compartilhar um pouco do que conversamos na aula.


Estudando a bíblia, aprendemos que adoração está diretamente ligada a uma vida de relacionamento sincero e verdadeiro com Deus, e não à música em si. Dentro da dinâmica congregacional, a música serve apenas para ajudar a congregação a se colocar diante de Deus, e adorá-lo em espírito e em verdade.

Dentro desse contexto, não podemos perder o foco do porquê que estamos tocando e cantando, e de que a música em si não é o fim. No entanto, isso não quer dizer que o trabalho musical não deva ser feito com excelência.

Vejamos o que a bíblia nos fala sobre isso:


Salmo 33:3
“Cantem-lhe uma nova canção; toquem com habilidade ao aclamá-lo.” (N.V.I.)

Salmo 47:7
“Pois Deus é o rei de toda a terra; cantem louvores com harmonia e arte.” (N.V.I.)

I Crônicas 15:22
“E Quenanias, chefe dos levitas, tinha o encargo de dirigir o canto; ensinava-os a entoá-lo, porque era entendido.” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Eclesiastes 9:10
“O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria.” (N.V.I.)


Nos dois salmos, é repetida a ideia de qualidade e excelência técnica. A palavra hebraica utilizada no Salmo 33 tem o significado de "fazer bem feito". No Salmo 47 dá a ideia de beleza na música, de algo harmonioso e, por consequência, que seja bem feito.
Já o texto de I Crônicas se refere ao momento em que estava sendo separadas as pessoas que seriam responsáveis pela música no serviço do culto à Deus. Se você observar o texto completo, verá que todos os selecionados eram mestres em seus instrumentos. É interessante a observação que o versículo 22 faz sobre Quenanias dizendo que ele era entendido. Ele não fora selecionado para a função de "dirigir o canto" por acaso, ele tinha conhecimento, preparo e era plenamente capacitado para exercer essa função.
Já no texto de eclesiastes, Salomão dá um conselho que vale para todas as áreas da nossa vida (inclusive a música). No que você se propor a fazer, faça o melhor que você puder, dê o que pode de si para executar essa tarefa da melhor maneira que você conseguir.

Isso quer dizer que se a música não for boa, ela não serve para a adoração? Não necessariamente. Lembre-se que excelência não é a mesma coisa que perfeccionismo. Excelência quer dizer que você fará o melhor possível com o que você dispõe para fazer, e não que o resultado final será uma execução perfeita e livre de erros. Aceite suas limitações e continue trabalhando para melhorar suas falhas.

Conclusão:

A excelência técnica e a qualidade musical não são o centro da adoração, mas devem ser buscadas pelos seguintes motivos:

1. “A partir do momento que oferecemos nossos dons e talentos para Deus e para a obra ministerial, deve ser um desejo natural fazer o nosso melhor para Ele. Não porque Ele precise de nossa música, mas porque Ele é digno do nosso melhor. Nossa dedicação e compromisso devem ser  uma resposta à Sua grandeza.”

2. “Toda ferramenta só consegue fazer um bom trabalho se estiver em boas condições de uso. Quanto maior o nível técnico de um músico, mais orgânico e preciso será a execução de uma frase musical, mesmo que simples. Além disso, o músico deve estar preparado para executar algo complexo quando necessário.”

3. “O homem tem um prazer natural pelo "belo". Aceitamos mais abertamente o que é bonito e bem feito, e tendemos a rejeitar o que é feio e desarmonioso. Uma música desarmoniosa pode desvias o foco das pessoas em adorar a Deus.”

No amor de Cristo,

Renan Alencar de Carvalho