De fato, existe uma certa discussão sobre esse tema, e posições distintas. Para alguns grupos, a música congregacional deve ser o mais simples possível, de poucos acordes e melodias fáceis. A Vineyard Music, por exemplo, tem dentro dos seus princípios o lema de que "menos é mais". Por outro lado, músicos e artistas como o João Alexandre tocam músicas em arranjos complexos, com muitos acordes e variações harmônicas, e alguns músicos defendem que a música deve ser bonita, independentemente da complexidade.
Claro que as duas "escolas" têm seus argumentos, prós e contras, contexto histórico-cultural etc. Minha intenção aqui não é debater qual o modelo mais correto, ou tecer uma comparação mais detalhada sobre cada ponto das duas posturas, mas tentar achar um ponto de equilíbrio saudável e aplicável sobre essa questão.
Primeiramente, acho que existem 2 pontos interessantes de se observar
- Contexto
Primeiramente, o limite entre o que é simples e o que é complexo varia de acordo com o contexto em questão. Um grupo onde a grande maioria das pessoas possuem um grau de instrução e cultura mais elevado aceitará uma forma musical mais sofisticada muito mais naturalmente do que um grupo formado por pescadores artesanais, com um grau de instrução menor. Por outro lado, a música dos pescadores pode parecer rústica demais para o primeiro grupo.
- O complexo pode soar simples
Nem sempre uma música com uma construção harmônica complexa soa de forma complexa. Por exemplo, o standard de jazz "All The Things That You Are" possui em sua harmonia diversas sutilezas, mas a melodia é simples, de fácil memorização e execução. Outro exemplo é em músicas com muitas frases, convenções e riffs entre estrofes (comum em músicas mais funkiadas) que muitas vezes são complexas ritmica e harmonicamente, mas passam despercebidos, sem confundir os ouvidos menos treinados.
Vendo que não existe uma definição exata do que pode ser considerado banal, simples ou complexo, eu me guio por alguns princípios para considerar se uma música é interessante para o uso congregacional ou não:
- A música não pode ser fator de exclusão
O sentido da música congregacional é fazer com que a congregação participe. Se a música for tão complexa ou de difícil execução (seja por altura das vozes, andamento etc) que iniba a participação das pessoas, essa com certeza não é uma boa música para ser utilizada no momento.
- Exageros devem ser cortados
A definição do que é um exagero ou não é pouco sutil, e depende do contexto musical. Por esse motivo, exige uma certa experiência e maturidade do músico. Por exemplo, um acorde com sexta, nona e décima primeira aumentada pode ser completamente natural em um jazz, ou em uma bossa nova (na verdade, um acorde crú só com a tríade soa até feio nesses estilos), mas pode ser um completo exagero em um pop/rock. Como regra geral, faça o que a música "pede". Para isso, ouça bastantes gravações, entenda as características e peculiaridade de cada gênero, procure se informar sobre o processo de making off das gravações que você gosta, estude harmonização e arranjo etc.
- Capacidade de redução
Uma boa música congregacional deve ser altamente utilizável, ou seja, não pode depender de músicos extremamente talentosos, ou de um grupo específico de pessoas para ser executada. Mesmo que o arranjo original seja complexo, deve ser possível sofrer uma redução para ser tocada por pessoas menos capacitadas.
Conclusão
Antes de fechar o post, gostaria de lembrar que não existe uma verdade absoluta para esse tema. O que funciona em um contexto não necessariamente funcionará em outro. Antes de mais nada, é preciso conhecer o seu contexto, e ponderar com sábedoria e bom senso. Espero que os princípios colocados nesse post te ajude a amadurecer o repertório e os arranjos tocados em sua igreja.
E para fechar, dois vídeos, um de cada visão, para você ponderar o que é melhor para a sua igreja.
Um grande abraço,
Renan Alencar de Carvalho
* "Papo & Arte" é um programa que acontece toda quarta-feira, às 20:30 na Igreja do Senhor Jesus Cristo em São Paulo e transmitido ao vivo pela internet (no twitter e no site da igreja), e aborda o universo artístico e musical cristão. Os programas podem ser revistos no site da igreja: http://www.igrejasp.com.br/.
Particularmente eu tenho gostado bastante desse programa, e recomendo acompanhá-lo, e assistir os vídeos das gravações passadas.
Interessante, mas vale também lembrar que o Vineyard compensa (e muito) sua simplicidade nos arranjos com a excelente qualidade dos vocalistas. Então no fim das contas acaba dando no mesmo.
ResponderExcluirAbraços
Olá.
ResponderExcluirClaro que sim, não estou desmerecendo a VM, pelo contrário, estudei com eles e muito do que eu penso vem deles... mas em relação à composição e aplicabilidade nas igrejas, são caminhos diferentes... apenas isso!
Agora o que acho uma crítica válida, indo um pouco mais a fundo, é que a música "gospel" de hoje está presa há um mesmo modelo, e só é feito isso... todas as músicas de louvor (principalmente Vineyard e Hillsong), vão na linha do pop-rock ao estilo de U2. Ta na hora de produzirmos músicas mais originais....
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ isso ai manão...acho que o equilibrio se encontra com o objetivo correto, pq como vc colocou a complexidade ou simplicidade varia de acordo com o local onde esta e também com os musicos, mas acho que a questão não é tanto a complexidade mas o que se transmite, a mensagem que esta sendo passada, pq se todos os arranjos sejam ele instrumentais ou vocais tiram o foco do principal que é a palavra que esta sendo cantada acho que se perdeu o objetivo principal.
ResponderExcluirMaurício, obrigado pelo comentário!
ResponderExcluirRealmente, o principal é o que se está sendo cantado... onde também existe uma certa superficialidade em muitas músicas de hoje, existem letras que nem valem a pena ser cantadas (mas isso é um outro assunto).
Realmente, a palavra chave é foco! Se o seu foco é levar as pessoas a adorarem a Deus, um bom arranjo (instrumental e vocal) podem ajudar (e muito) para isso, valorizando ainda mais o que está sendo cantado e tocado.
Só acho que não podemos esquecer que o homem tem uma sede natural pelo belo... faz parte do nosso "DNA Divino", nossa parte feita a imagem e semelhança de Deus.
Se nos contentarmos sempre com o pouco, nivelando sempre por baixo, não abrimos espaço para o crescimento, para a descoberta, para o novo... também espiritual.
Toda a capacidade de criação, todo o talento, tudo o que fazemos ou somos, só somos porque Deus assim permite. Diversas vezes eu louvei a Deus por ver (ou ouvir) uma obra de arte (mesmo não cristã), agradecendo por Ele ter nos dado essa capacidade.
Desfrutar do belo também pode nos levar para perto de Deus!
abraços
Agora só para dar uma corda na conversa... será que o conceito de beleza é universal?!
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