domingo, 27 de julho de 2014

Balada Gospel

Em uma conversa do facebook sobre a nova moda de balada gospel, escrevi o texto abaixo comentando sobre o assunto e achei que valia à pena postar aqui.

"Por certo aspecto, a questão tem uma certa semelhança com o que foi a proibição do cinema no passado. O cinema era mal visto por ser um lugar de "pegação" assim como a balada é hoje, e para a mentalidade "cristã" tradicional da época, era inconcebível que um cristão frequentasse um lugar desse como um meio de entretenimento, assim como muita gente olha "torto" para as baladas hoje.
Não creio que a fazer algo por entretenimento seja mal por si só. A posição ascetista de que tudo que é carnal, como o prazer e o entretenimento é puramente mal, pode ter aparência de sabedoria, mas ignora parte da palavra de Deus.

No plano original de Deus, ele criou o paraíso na terra, real, físico, e é muito relevante que em apocalipse (Ap. 21:2), a nova Jerusalém desce do céu... não quero discutir escatologia aqui, mas é relevante enxergar que de algum modo Deus quer fazer o Seu reino presente nessa Terra, humana e carnal. O ponto é não se relacionar com o prazer e o entretenimento como fonte e fim, mas entender que eles devem apontar para a fonte dessa alegria. Isso pode parecer apenas definições teóricas, mas muda radicalmente o modo como você se relaciona com as coisas, e acho que aqui que começa a pegar nas baladas gospel..... talvez a grande maioria nem saiba que está presa na "Matrix", quanto mais liberta dela...

O ponto é que nossa cultura atual está presa dentro de uma visão hedonista alto destrutiva. Uma citação que gosto bastante de Pascal em "Diversão e Tédio" diz:
"A única coisa que nos consola de nossas misérias é a diversão. No entanto é a maior de nossas misérias. Porque é ela que nos impede principalmente de pensar em nós e que nos põe a perder insensivelmente. Sem ela ficaríamos entediados, e esse tédio nos levaria a buscar um meio mais sólido de sair dele, mas a diversão nos entretém e nos faz chegar insensivelmente à morte."
A crise de identidade, liberdade e verdade que vivemos hoje é tão grande, e tão enraizada na nossa cultura, que o entretenimento é parte central como válvula de escape. Estamos o tempo todo buscando padrões irreais de vida, status, beleza, liberdade, autonomia financeira, sucesso na carreira profissional, bens caríssimos que definem no caráter, e como obviamente não conseguimos atingir esses padrões irreais que a mídia impõe, partimos para os meios de fuga para esquecermos nossas misérias: a sociedade de híper-consumo, a busca de realização nas sensações, as culturas das drogas, dos vícios, do sexo compulsivo, e da cultura de baladas.

Quando aceitamos a Cristo, deveríamos acordar e sair dessa Matrix, porque o que nos define não são mais esse padrões irreais que aprisionam nossa sociedade, mas o que Deus fez na cruz por mim, e o que eu me tornei por meio de sei sacrifício. Não preciso mais de saltos para fugir da minha falta de identidade em não conseguir atingir os padrões impostos, porque o padrão de Deus foi atingido por Cristo na cruz do Calvário, e eu encontro a minha identidade olhando para Cristo (o final do livro inveja fala sobre isso, pra quem já leu).

Voltando para o ponto da balada, se alguém consciente de tudo isso, que não tem a necessidade de fugir de si mesmo para um momento de felicidade, que não se relaciona com a balado como um salto para o esquecimento de suas misérias, quiser ir para uma balada (ou um cinema, um teatro, uma apresentação musical, ou qualquer meio de entretenimento), para desfrutar de um momento com os amigos; ok, não acho que é um problema. Mas para alguém que está preso nessa cultura, e que nem sabe que está preso, criar apenas um meio de salto (por mais que seja "melhor" que uma balada do mundo, sem bebidas ou pegação), não trata o problema, não liberta a pessoa de si mesmo, e talvez pior, se ficar apenas nisso, pode estar enganando as pessoas fazendo-as acreditar que encontraram a liberdade, estando ainda presas (isso sem falar em outros pontos questionáveis, como o mercado por traz e o lucro disso... para onde vai?).

Mas isso que estou falando não acontece só nas baladas gospel..... está nos shows, nas igrejas, nos eventos, no cultos de adoração... temos nos relacionado com o sagrado como um salto de esquecimento de nossa realidade, ao invés de enxergar que todos os pontos de nossa vida são sagrados.

Se tem uma solução para isso? Não sei... ainda não encontrei uma solução nem pra minha própria vida... ainda sou tão inseguro de mim mesmo e tão fraco quanto o que está na cultura do salto.... e muito, muito menos feliz que eles, com certeza....

Se tornar um pequeno Cristo, um cristão, é resultado da peregrinação de uma vida... espero que no final dessa caminhada esse relacionamento com o Eterno tenha me tornado a sua imagem e semelhança."

Nenhum comentário:

Postar um comentário